sexta-feira, 6 de abril de 2018

Melgacenses que combateram na Primeira Grande Guerra - Os Expedicionários da freguesia de Penso (Melgaço)





Neste ano, assinala-se o primeiro centenário do fim da Primeira Guerra Mundial. O blogue vai, nas próximas semanas, prestar uma merecida homenagem aos homens de Melgaço que tomaram parte neste conflito que mudou o rumo da História.
Depois das declarações de guerra mútuas entre Portugal e a Alemanha, a partir de 1916, o nosso país procedeu à mobilização maciça de jovens do sexo masculino.
Foram afixados editais de grandes dimensão nas portas dos edifícios públicos, nas câmaras municipais, praças publicas, etc., indicando os locais e as datas para apresentação dos homens, nas respectivas unidades mobilizadoras. Muitos destes homens, recrutados nas diferentes terras portuguesas de norte a sul do país, não tinham noção do que era uma guerra, muitos deles mal sabiam ler e escrever, muitos nunca tinham saído das suas aldeias.
De Melgaço, saíram a partir de 1917 em direção à frente de guerra na Flandres francesa, segundo os dados de que disponho, 72 soldados oriundos de diversas freguesias. Umas das freguesias do nosso concelho de onde saíram mais combatentes foi a de São Tiago de Penso. Daqui, eram naturais 11 soldados, 8 dos quais pertenciam à famosa Brigada do Minho (4ª Brigada de Infantaria do C.E.P). Esta Brigada era formada pelos Batalhões de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), nº 8 e 29 (Braga) e nº 20 (Guimarães) que se encontrava sediada em Levantie (França) e controlava o setor de Fauquissart na frente de guerra.
Dos 11 que partiram para a guerra, apenas o soldado Simplício de Lima faleceu em França, já depois do fim do conflito, vítima de uma Bacilose Pulmonar no dia 18 de Dezembro de 1918 no Hospital da Base.
Os restantes sobreviveram à guerra. Todavia, o soldado António Fernandes, natural do lugar de Ranhol (Penso), que combateu na Batalha de La Lys, foi dado como desaparecido em combate depois da batalha. Alguns meses depois, por comunicação da Comissão dos Prisioneiros de Guerra, soube-se que o soldado António Fernandes tinha sido feito prisioneiro de guerra pelos alemães durante as hostilidades e que tinha sido levado para o Campo de Prisioneiros de Münster II, no norte da Alemanha, tendo regressado a Portugal em Fevereiro de 1919.
Quem foram os soldados oriundos da freguesia de Penso que estiveram neste conflito horrendo? Vamos lembrar estes homens…
A quantidade de informações que consegui reunir não é muito abundante mas permite conhecer um pouco do percurso militar de cada um destes durante a guerra.
Eles foram:

1 - António Fernandes, 2º Cabo do 2º Grupo de Baterias de Artilharia (1ª Bateria). Nasceu às sete horas da manhã do dia 19 de Junho de 1891, filho de Agostinho Fernandes e Maria Rosa Esteves Cordeiro, natural do lugar de Ranhol, freguesia de Penso. À época de partida para a guerra, era casado com Emilia Domingues desde 24 de Agosto de 1913. Embarcou para França em 17 Novembro de 1917 integrado no Corpo Expedicionário Português, portador da chapa de identificação nº 33 557. Foi dado como desaparecido em combate na Batalha de La Lys em 9 de Abril de 1918. Contudo, posteriormente, por comunicação da Comissão de Prisioneiros de Guerra, soube-se que tinha sido feito prisioneiro pelos alemães e levado para o Campo de Prisioneiros de Münster II (Alemanha). Sobreviveu à guerra. O soldado António Fernandes embarcou no navio inglês "Northwestern Miller" em 31 de Janeiro de 1919 e desembarcou em Lisboa de 4 de Fevereiro de 1919.

Cartão de inventariação do prisioneiro de guerra do 2º Cabo António Fernandes
no Campo de Munster II (Alemanha)
(Fonte: Comité Internacional da Cruz Vermelha)

Aspeto do Campo de Prisioneiros de Munster II em 1918


Cemitério do Campo de Prisioneiros de Munster II

2 - Simplício de Lima, soldado do 1.º Esquadrão do Regimento de Cavalaria n.º 4. Nasceu às dez horas da noite do dia 18 de Junho de 1893 no lugar de Paranhão, lugar da freguesia de São Tiago de Penso, filho de pai incógnito e de Maria Teresa de Lima. À época da partida para a guerra, encontrava-se solteiro e morava no dito lugar de Paranhão, freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 26 de Maio de 1917. Em 2 de Dezembro de 1918, já depois do Armistício, o soldado Simplício baixou ao Hospital da Base nº 2, vindo a falecer no dia 18 de Dezembro, vítima de Bacilose Pulmonar, tal como consta no seu Boletim Individual. Foi sepultado no Cemitério de Ambleteuse (França), coval 5F caixão nº 112. Posteriormente, os seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério Militar Português de Richebourg l`Avoué, Talhão D, Fila 22, Coval 4.

Sepultura do soldado Simplício de Lima, no Cemitério de Richebourg l`Avoué (França)

3 - Gaudêncio Rodrigues, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às três horas da tarde do dia 23 de Outubro de 1893 no lugar da Carreira, freguesia de São Tiago de Penso, filho de Rosalino José Rodrigues e de Maria da Conceição Alves. À época da partida para a guerra, encontrava-se solteiro e morava no dito lugar da Carreira, freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 16 de Maio de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho. Desconhecem-se mais dados do seu percurso militar durante o conflito. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa em data desconhecida.

4 - Manuel Gonçalves, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às quatro horas e meia da tarde do dia 29 de Maio de 1893 no lugar das Mós, freguesia de São Tiago de Penso, filho de António Joaquim Gonçalves e de Ludovina Domingues. À época da partida para a guerra, era casado com Maria Martins e morava na mesma freguesia de S. Tiago de Penso. Tinha contraído matrimónio a 14 de Fevereiro de 1917, cerca de dois meses antes de partir para a guerra. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 16 de Abril, onde pertenceu à Brigada do Minho. Baixou ao hospital em 19 de Outubro de 1917, tendo alta no dia 23. Em 5 de Agosto de 1918, foi colocado no Quartel General do Corpo Expedicionário Português. Por ordem de serviço de 17 de Maio de 1918, por parte do Comando do Quartel General, marchou com vista a apresentar-se no Porto de Embarque, em Cherbourg, afim de ser repatriado. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa em 9 de Junho de 1919. Viria a falecer em 5 de Julho de 1948.

5 - Alberto Esteves, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às duas horas da tarde do dia 29 de Agosto de 1893 no lugar de Pomar, freguesia de São Tiago de Penso, filho de Manuel António Esteves e de Maria Solha. À época da partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no lugar do Pomar, freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 16 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho. Dos registos inscritos no seu Boletim Individual, sabemos que foi hospitalizado em 22 de Março por motivo de ataque com gás. Em 27 de Outubro de 1917, foi punido pelo Comandante da Companhia com 10 dias de detenção por “ter sido nomeado para servir nas trincheiras e não se ter apresentado prontamente para esse serviço tendo sido necessário a intervenção do comandante da companhia para que desse cumprimento à ordem que nesse sentido tinha recebido…”. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa em 8 de Julho de 1919. Viria a falecer às 18 horas do dia 28 de Setembro de 1963.

6 - António Lopes, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às quatro horas da tarde do dia 27 de Outubro de 1893 no lugar de Pomar, freguesia de São Tiago de Penso, filho de João Luíz Lopes e de Maria José Vaz. À época da partida para a guerra, encontrava-se solteiro e morador no lugar do Pomar, freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 18 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho. Dos registos inscritos no seu Boletim Individual, sabemos que baixou ao Hospital da Base em 11 de Abril de 1918. Foi julgado incapaz de todo o serviço em 13 de Maio de 1918, tendo alta em 13 de Maio e ficou "a aguardar confirmação junta que o julgou incapaz”. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa em data que não vem inscrita no seu Boletim Individual e portanto se desconhece. Viria a falecer na freguesia de Penso (Melgaço) no dia 8 de Março de 1975.

7 - Jaime Rodrigues, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às dez horas da noite do dia 27 de Outubro de 1895 no lugar de Pomar, freguesia de São Tiago de Penso, filho de pai incógnito e de Maria Luíza Rodrigues. À época da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no dito lugar do Pomar, freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho, tendo combatido na Batalha de La Lys em 9 de Abril de 1918, fazendo parte do 2º Grupo de Pioneiros. Pelos registos que constam no seu Boletim Individual, sabemos que baixou ao Hospital da Base em 21 de Junho de 1918 tendo alta em 31 de Julho. Foi julgado incapaz de todo o serviço em 29 de Junho de 1918, tendo sido evacuado afim de ser repatriado em 6 de Agosto de 1918. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa em 25 de Agosto de 1918. Posteriormente, viria a casar com Olívia Vieites em 25 de Outubro de 1918, pouco tempo depois de ter regressado da guerra. Viria a falecer na freguesia de Penso no dia 13 de Setembro de 1971.

8 - Zeferino Domingues, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às duas horas da manhã do dia 24 de Agosto de 1895 no lugar das Lages, freguesia de São Tiago de Penso, filho de Manuel José Domingues e de Maria Joaquina Vaz. À época da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no lugar das Lages, freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português em 1917, em data incerta, onde pertenceu à Brigada do Minho. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa em 1918 ou 1919, em data incerta.

9 - Luíz Tavares, Alferes de do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às oito horas da noite do dia 22 de Fevereiro de 1885 no lugar de Telhada Grande, freguesia de São Tiago de Penso, filho de pai incógnito e de Adelina Tavares. À época da sua partida para a guerra era casado com Aminia da Conceição, desde 3 de Setembro de 1910 e era morador no concelho de Valença. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho. Já em França, baixou à ambulância nº 3 em 12 de Setembro de 1917. Foi evacuado para o Hospital da Base em 13 de Fevereiro tendo recebido alta no dia 17 do mesmo mês e ano, com 8 dias de convalescença. É promovido a sargento ajudante no dia 29 de Fevereiro de 1917. Promovido a Alferes por decreto de 9 de Fevereiro de 1918, sendo colocado no Regimento de Infantaria 20. Baixa ao hospital em 14 de Março de 1918, tendo alta em 8 de Abril. Obteve licença da Junta por 30 dias, sendo-lhe concedido gozá-los em Portugal para onde segue em 1 de Maio. Sobreviveu à guerra e desconhece-se se voltou para França após a licença por falta de registos. Viria a falecer no dia 21 de Outubro de 1949.

10 - José Garcia, Soldado de Infantaria (Companhia e Regimento desconhecidos). Nasceu em data desconhecida na freguesia de São Tiago de Penso (naturalidade indicada no Boletim Individual mas não consta no respetivo Livro Paroquial de Batismos), filho de Manuel Garcia e de Maria Garcia. À época da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador na freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 16 de Maio de 1917. Os informações são escassas em relação ao percurso militar deste soldado durante a guerra. Sabe-se que durante a sua permanência em França, entrou no gozo de 10 dias de licença de campanha em 7 de Fevereiro de 1919. Estava presente no Comando Militar de Ambleteuse em 18 de Março desse ano e seguiu no mesmo dia para o Porto de Embarque (Cherbourg) com vista a ser repatriado juntamente com a sua unidade, embarcando para Portugal no dia 5 de Abril de 1919. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa em 13 de Abril de 1919.

11 - Manuel Pereira, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 1 (Lisboa), 6.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às três horas da tarde do dia 30 de Janeiro de 1893 no lugar de Alempassa, freguesia de São Tiago de Penso, filho de João Manuel Pereira e de Rosa Rodrigues. À época da partida para a guerra, era solteiro e morava na rua da Betesga, nos nº 95/96, na cidade de Lisboa. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 11 de Julho de 1917.  Já em França, durante a guerra, baixou à ambulância em 9 de Agosto de 1917. Foi julgado incapaz de todo o serviço ativo em sessão de Junta Médica de 13 de Agosto do mesmo ano. Teve alta no dia 14 do mesmo mês. Posteriormente, foi colocado no Quartel General do Corpo Expedicionário Português em 19 de Setembro de 1917. Seguiu para o Quartel General da Base com vista a ser repatriado em 5 de Julho de 1918. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa em 9 de Junho de 1919. Após a guerra, casou em 23 de Junho de 1927, com Amélia da Conceição Silva. Viria a falecer em 18 de Maio de 1977.

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