sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Melgaço na escrita de Camilo Castelo Branco I




As personagens melgacenses no livro "Estrellas Funestas"

"Uma noite, caíndo a ponto falar-se na pertinacia boçal do conde de Monção, disse o alcaide o seguinte:

--Traz-me esse nome á memoria um successo, que se deu, depois da vossa ida para Portugal. Fui eu avisado de que dois homens suspeitos tinham chegado a Segovia, e saíam de madrugada a fazer excursões pelos arrabaldes. Mandei-os espionar, e soube que elles estanceavam por estes sitios, indagando dos aldeãos qual terra vós terieis ido habitar. Com esta informação fiz prender os homens. Pedi-lhes os passaportes, e vi que os viandantes eram portuguezes, naturaes de Melgaço, e contractadores de carneiros. Não sei por que instincto, retive-os até me darem abono. Não conheciam ninguem em Segovia; mas deram-se pressa em escrever para Portugal. No entanto, perguntei-lhes o que tinham elles vindo fazer nos arredores d'esta quinta. Responderam que andavam em cata de gado para comprarem. Redobraram as minhas suspeitas. Inquiri que tinham elles com uma familia, que se alojava n'esta quinta.

Tartamudearam e confirmaram a certeza de seus máos intentos. Quinze dias depois, recebi ordem do governo madrilense para dar soltura aos presos. Não tinha outro remedio: soltei-os. Escrevi para Madrid, pedindo que se averiguasse na repartição competente quem afiançara aquelles dois presos. Tive em resposta que o ministro recebera directamente uma carta de seu parente, o conde de Monção. De propósito vos occultei este episodio em minhas cartas, cuidando em não vos aggravar as desgraçadas apprehensões. Agora vos digo que isto me fez apprehender muito a mim."

Extrato do livro: Estrellas Funestas (1862) de Camilo Castelo Branco.



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