quarta-feira, 12 de junho de 2013

Referências históricas ao Traje de Castro Laboreiro (Parte I)

Castro Laboreiro, 1911

Em carta datada de 26 de Setembro de 1791, Dom Frei Caetano Brandão descrevia assim o traje das mulheres de Castro Laboreiro: Não há coisa mais fêa que o (uniforme)do sexo feminino; huma manta de Çaragoça dobrada na cabeça descendo da parte de diante até o peito muito cozida com o rosto; de traz até quasi ao chão; hum avental da mesma, ou mantéo, sem género de refego, nem prega, polainas de panno branco, e huns tamancos muito altos, atados com diferentes corrêas; he o vestido geral de todas.
A esta fealdade no trajar, Dom Frei Caetano Brandão acrescentou liminarmente a sua apreciação sobre os rostos das crastejas: as caras são de tapuyas tostadas e disformes.
No ‘Minho Pitoresco’, cerca de um século depois, José Augusto Vieira exprimia uma opinião diferente ao afirmar a crasteja com quem conversavamos, assim como todas as que se relaccionaram comnosco, de tracto affável e simples, modesta e com uma physionomia expressiva. Em todas encontrámos uma regularidade de traços, formando um conjuncto agradável e sympathico.
As peças mais originais do costume, ou trajo, que vestiam eram: a mantela, espécie de lenço para a cabeça, o collete, o manteo largo deitado desde os hombros até aos joelhos, as piugas e os tamancos que dão à crasteja a pequenez do pé, como acontece na China com os borzeguins das altas damas. Chamam-lhes na linguagem local «alabardeiros».
Alguns anos depois, em 1904, Leite de Vasconcellos e o Abade de Melgaço, José Domingues, empreendem uma excursão a Castro Laboreiro "montados em mulas e acompanhados de duas mocetonas, calçadas de grossos çoques (isto é, çocos ou socos), e com polainas de branqueta.
Quando chegaram a Castro Laboreiro era dia de feira e o etnógrafo observou ‘muitos homens juntos: apresentavam-se geralmente de cara rapada, vestidos de çaragoça (jaqueta, calças e collete), traziam chapéus de panno ou carapuça, e varapau. Mulheres, por ser de gado a feira, não andavam lá muitas. O trajo ordinário d’ellas é: camisa; faxa vermelha; collete; jaqueta; saia branca; saiote; saia de cor, quási sempre,preta, feita de foloado «panno de lã de ovelha ou de linho» que se fabrica em Castro; mandil, singuidalho, do mesmo ou de outro panno; na cabeça capella, que pode ser substituída por lenço; nas pernas calções e piúcas, meias sem pés, que se prendem com uma liga ou baraça; e nos pés chancas.(…) No Inverno, tanto homens como mulheres, se abrigam das neves, chuvas e friagens com o corucho, espécie de capuz de burel que se traz na cabeça, e tem uma espécie de aba que se prolonga pelas costas abaixo."
Um outro visitante de Castro Laboreiro foi o jornalista alemão Bruno Buchenbacher que percorreu o Alto Minho logo após a implantação da República. Referiu-se aos castrejos como "trabalhadores incansáveis e confessou a sua surpresa por ter encontrado na vila duas fábricas de chocolate cuja qualidade elogiou. Salientou ainda dois característicos notáveis: lindas cachopas e formidáveis cães, ambos para recear"… 
Das fotografias que tirou destaca-se a de uma castreja vestindo trajo tradicional.

Extraído de: LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia M. Cardoso - O Trajo Castrejo. ACER - Associação Cultural e de Estudos Regionais.

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