segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Castelo de Castro Laboreiro: Posição estratégica para a preservação da nacionalidade II


O castelo de Castro Laboreiro ocupa um lugar central de uma rede viária, na qual evidenciamos os eixos que o interligam, não só aos núcleos de Milmanda e Celanova, como às vilas de Melgaço e dos Arcos de Valdevez, que adquiriu uma posição estratégica preciosa para o domínio da raia seca entre o Lima e o Minho.
Implementado numa elevação escarpada sobre o soco granítico, de acesso muito difícil, cuja edificação actual corresponde a uma construção de Dinis, em 1290, atinge-se, a partir do lugar da Vila, quer pelo Norte, através do caminho que é o mais difícil, mas também o mais curto, quer pelo nascente, por um caminho mais suave, mas que, ambos conduzem, directamente, à porta da Traição, vulgarmente, conhecida pela porta do Sapo.
Contudo, um outro acesso, aparentemente, uma via romana, liga a Vila, precisamente a Ponte Velha, à porta principal, a porta a nascente, a porta do Sol. Com dois recintos muralhados, em que o de maiores dimensões teria como função abrigar as populações e gado em épocas de invasão, do castelo vislumbra-se uma panorâmica, quase total da freguesia, a do vale, em direcção a sul, e a das orlas do planalto, para nascente e norte.
A primeira informação "topográfica", que encontramos, sobre este castelo e o respectivo lugar, o da Vila, data do século XVI, da autoria de Duarte de Armas, sob a forma de uma planta e dois desenhos, duas vistas panorâmicas, obtidos em duas posições diferentes, as das  andas do norte e do sul, respectivamente. Não vamos questionar, nem as datas prováveis, pois todas as opiniões convergem para o primeiro quarteirão do séc. XVI, nem as diferenças encontradas nos desenhos em papel de linho e em pergaminho, que se encontram, respectivamente, nos Arquivos Central de Madrid e Nacional da Torre do Tombo. Ainda existem outras problemáticas, como, por exemplo, se os desenhos em papel correspondem a esboços preliminares dos desenhos definitivos, feitos sobre pergaminho, ou, a esboços mais aperfeiçoados feitos a partir dos elementos recolhidos no trabalho de campo, mas ainda imperfeitos. Serão antes desenhos feitos no mesmo momento mas por pessoas diferentes, provavelmente, o Duarte de Armas e o seu pagem. É de crer que se tratam de desenhos efectuados com a preocupação em retractar a fortaleza com a maior exactidão e objectividade possíveis, pois se a torre de menagem desapareceu por completo e parte das muralhas caíram em ruínas (restauradas nas décadas de cinquenta), em 1949 e 1957, ainda, se podia localizar, na vista de sul, a fonte que o Autor legendou como “hua fonti muy booa”.
Castelo de raia seca dinamizou o lugar da Vila, como centro de um território, em que os contornos do concelho e paróquia se confundiam, abrangia uma única comunidade, a “crasteja”, distribuída por casais afastados, numa região agreste e dificilmente controlada pelo poder central, mas estratégica, porque assegurava a primeira linha, em caso de instabilidade bélica, como aconteceu, por exemplo, nos primórdios da nacionalidade, nas Guerras da Independência e da Restauração.
Mercê desta posição estratégia se compreende o sistema defensivo implementado na bacia do Minho através de aparelhos militares, como os de Milmanda, Stª Cruz, Sande, ou Vila Nova dos Infantes, que Afonso Henriques pretendeu dominar, através das variadas incursões e ataques, que efectuou no território galego.
Se do castelo de Stª Cruz não se encontram vestígios, em relação ao de Sande existe a Torre que, embora degradada, se impõe na paisagem de um modo austero, mas majestoso, reportando-nos às épocas atribuladas como, por exemplo, à do cerco que Afonso Henriques lhe impôs nos agitados anos da década de sessenta do século XII (1165).
Do castelo de Milmanda prevalece a torre de vigia, reaproveitada como campanário da Igreja de Stª Maria, além dos troços da muralha que delimitam o pequeno burgo, ainda, hoje habitado. A uma distância próxima, situa-se a recuperada vila medieval de Vila Nova dos Infantes que, com a sua Torre, não deixa esquecer ao forasteiro mais distraído a importância que readquiria, como qualquer outra estrutura permanente de defesa nos períodos de turbulência e instabilidade militares na fronteira luso-galega. 

Informações extraídas de:
CARVALHOElza Maria Gonçalves Rodrigues (2006) - Lima Internacional: Paisagens e Espaços de Fronteira. Tese de Doutoramento em Geografia - Ramo de Geografia Humana; Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho.

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