domingo, 21 de outubro de 2012

Histórias da RODA de Melgaço - séc. XVIII e XIX (parte VI)

O selo dos expostos

Para que o sistema assistencial funcionasse correctamente, não bastava que houvesse amas disponíveis. Seria absolutamente fundamental que estas fossem mulheres honestas, responsáveis e cuidadosas. Para incentivar a envolvência destas amas, chegou a propor-se a atribuição de prémios às que se revelassem mais zelosas, uma medida que seria inviabilizada pela falta de recursos financeiros. Em qualquer circunstância, todas as amas se deveriam comprometer a tratar os expostos «com todo ozelo e caridade», embora só excepcionalmente sob um ritual administrativo que incluiria o juramento e a elaboração de um termo de responsabilidade.
Algumas câmaras da região preocupavam-se com o estado em que se encontravam os expostos, exigindo que fossem observados pelo médico do partido ou, em alternativa, obrigando as amas a entregarem um atestado comprovativo do seu tratamento. Apesar de todas as irregularidades praticadas, alguns atestados davam conta de que os expostos estavam em “estado sofrível”, “bem tratados”, “bem gordos” ou “bem nutridos”, uma situação que também poderia ser comprovada em actos de revista. Excepcionalmente aparece a indicação de que uma determinada criança estava bem nutrida porque o filho da ama havia falecido, o que lhe permitiria ser melhor amamentada e melhor tratada.
De facto, não seria fácil a uma ama gerir a amamentação conjunta de um filho biológico e de uma criança adoptiva ou postiça, sendo muito provável que privilegiasse o filho, em detrimento da criança exposta.
Um caso considerado exemplar é o caso da ama Albina Clara de Castro, de 23 anos de idade, solteira, costureira, natural da freguesia de Chaviães, concelho de Melgaço, poderá ser apontada como um exemplo de profissionalismo e responsabilidade. Na verdade, depois de se candidatar ao exercício do cargo de ama de leite, foi-lhe entregue uma exposta, em 9 de Fevereiro de 1863. Contudo, «por deixar de ter rapidamente falta de leite», disso deu conta à administração da Roda de Melgaço, tendo-se mostrado indisponível para continuar a ser ama, salvo se voltasse a ter leite.
Em 22 de Janeiro de 1876, foi-lhe entregue o exposto Baltazar José, por se ter verificado «ter leite em abundância», uma actividade que se viu forçada a abandonar novamente, «por adoecer gravemente e o exposto defecar rapidamente», ainda a tempo de o fazer entregar a uma outra ama para que pudesse completar a sua criação. A mesma avaliação positiva foi feita em relação a uma outra ama de Melgaço, Maria da Conceição Sanches, solteira, da freguesia de Alvaredo, a qual, em 1883, foi considerada pela câmara como «das melhores amas no cumprimento dos deveres».


Informações recolhidas em:

- PONTE, Teodoro Afonso (2004) - No limiar da honra e da pobreza - A infância desvalida e abandonada no Alto Minho (1698 - 1924). Tese de doutoramento; Universidade do Minho, Braga.

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