quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Histórias da RODA de Melgaço - séc. XVIII e XIX (parte V)


Um exemplo de longevidade no exercício das funções de ama foi protagonizado por Maria Luisa Fernandes, casada, lavradeira, natural da vila de Melgaço. Matriculada oficialmente, em 8 de Agosto de 1860, quando tinha 37 anos de idade, esta mulher ainda exercia as funções de ama, em 1881, ao serviço do Hospício de Melgaço, tendo sido oficialmente reconhecida como uma das melhores amas do Hospício. Primeiro como ama de leite, mais tarde como ama de seco, esta mulher acompanhou de perto as mudanças institucionais que se registaram a nível distrital, quando as Rodas foram substituídas pelos Hospícios.
No momento em que o seu nome foi registado em livro próprio (por força do novo regulamento distrital que entrou em vigor a partir de 1857), esta ama já criava o exposto Manuel Maria. Contudo, após um novo parto e no dia em que lhe faleceu o filho, deixou de ser ama de seco para voltar a exercer as funções de ama de leite, substituindo a criança que estava a criar por uma outra que acabava de ser exposta. A morte desta, em 4 de Setembro de 1864, privou-a momentaneamente do respectivo salário, tendo manifestado às autoridades locais a sua disponibilidade para voltar a ser ama de seco ou de leite, depois de declarar estar novamente grávida e com parto próximo.
Em 5 de Janeiro de 1865, tomou conta do exposto António Oroeste, depois de provar que tinha leite. Este exposto sobreviveu até ao dia 22 de Agosto de 1865, logo substituído pela exposta Patronilha Maria, a qual continuou na sua posse, mesmo após ter completado os 7 anos de criação. Em 2 de Janeiro de 1873, já com 50 anos de idade, foi-lhe entregue o exposto Bento Monteiro, depois de retirado à ama anterior. Também este exposto atingiu os 7 anos de idade e ficou em seu poder, continuando a merecer a confiança da administração municipal que a considerou «apta para continuar a ser de seco quando se precisasse, por ser uma das melhores amas do Hospício». Com perto de 60 anos de idade, esta mulher ainda mantinha a sua inscrição como ama de seco, mas não dispomos de mais dados para saber se voltou a exercer esta função remunerada, que havia substituído ou complementado a anterior actividade de lavradeira.


Informações recolhidas em:

- PONTE, Teodoro Afonso (2004) - No limiar da honra e da pobreza - A infância desvalida e abandonada no Alto Minho (1698 - 1924). Tese de doutoramento; Universidade do Minho, Braga.

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