sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A Capela de Nossa Senhora da Orada (Vila de Melgaço)


Planta longitudinal orientada, composta por uma só nave e ábside quadrada. Volumes articulados com cobertura de telha a duas águas. Fachada principal enquadrado lateral e frontalmente por contrafortes e terminado em empena encimada por cruz foliculada sobre dorso de carneiro. Portal de três arquivoltas com enxaquetados, motivos vegetalistas, molduras e besantes, sobre imposta corrida e esculpida assente em colunas com capitéis vegetalistas. Encima-o cornija sobre cachorrada e fresta com colunelos, capitéis lisos, arquivolta e frisos envolventes de motivos vegetalistas e geométricos. Fachadas laterais corridas por friso e vários modilhões de apoio a dependências, fresta central, cornija sobre cachorros esculpidos e portal lateral; o do N. de arco de volta perfeita, e nós de Salomão gravados nas aduelas, sobre impostas zoomórficas; tímpano com árvore da vida ladeado por harpia e outro animal. Ábside com cornija besantada sobre cachorros esculpidos e fresta na parede testeira, abrindo para fora em arco quebrado. Interior com cobertura de madeira; de ambos os lados corre soco; arco cruzeiro quebrado, de duas arquivoltas: a exterior com friso esculpido sobre imposta e a interior sobre colunas com capitéis quadrangulares; ladeia-o dois nichos estreitos de arco quebrado e encima-o fresta. Na parede da Epístola inscrição. Capela-mor com pavimento mais alto, fresta da parede testeira abrindo também para o interior e dois nichos laterais, de arco quebrado.

Algumas referências históricas...

Em 1166, verifica-se a doação do senhorio de Orada ao mosteiro de Fiães pela Condessa Froila; 1170 - integrava-se no couto que D. Afonso Henriques outorgou ao mesmo mosteiro; por se encontrar em ruínas, D. Afonso Henriques manda-o reedificar, segundo escritura de doação feita por D. Sancho I em 11 Setembro 1204; 1189 - D. Sancho I deu aos frades de Fiães os quatro casais e meio de Figueiredo pela remissão dos seus pecados e pela herdade de Santa Maria da Orada que seu pai D. Afonso, lhes deu; 1211 - D. Afonso II teve algumas questões com as Infantas suas irmãs por causa dos bens que D. Sancho I lhes legou; 1218 - o senhorio da capela e seus bens estavam em dívida, e durante o século Portugal manteve pleitos mais ou menos declarados com Espanha por causa dela; 1220 - documento refere a capela como eremitério; 1245 - data inscrita junto ao arco triunfal assinalando a reconstrução da igreja, provavelmente substituindo a primitiva, possivelmente um eremitério dos frades de Fiães; a capela era administrada pelo Convento de Fiães; 1258 - Inquirições referem que foi usurpada ao património real e dado a um convento, sem o vigário da terra ter escrito no rol o consagrado - "Perdit Dominus Rex illud" - perdendo-o assim o rei; 1303, 5 Maio - Lourenço Gonçalves Raposo, morador na Bouça, doa trinta soldos à ermida de Santa Maria de Orada pela leira que tinha e fazia "Corredoira" de Orada, mandando que a sua geração dê anualmente à ermida os trinta soldos; posteriormente os frades deixaram de ali ter o seu eremitério, levando as chaves da capela para Fiães, passando assim a estar fechada grande parte do tempo; 1567 - construção do cruzeiro com imagem de Cristo crucificado em frente da capela da Orada, durante um período da peste, como agradecimento por Melgaço ter sido poupada ou a pedir por aqueles que morreram; 1652, 13 Fevereiro - testamento de Catarina Rodrigues, da freguesia de São João de Sá, termo de Valadares, recomendando uma Avé Maria do Rosário de Nossa Senhora da Orada à imagem da capela; 1691 - data inscrita numa pedra lavrada posta a descoberto nas obras de restauro dos anos 40; séc. 17 / 18 - substituição do antigo arco cruzeiro, feitura do púlpito, coro e outros melhoramentos; 1737 / 1738 - Marta Rilva foi a Fiães levar uma carta e pedir licença aos frades para se recolher na Orada a procissão e pedir-lhe a chave da grade, como era costume, e para trazer o Senhor caído; 1758, 24 Maio - segundo o padre Bento Lourenço de Nogueira nas Memórias Paroquiais, a capela de Nossa Senhora da Orada tinha sido fundação dos Templários, pertencia aos monges de São Bernardo do Mosteiro de Fiães e ficava junto à estrada que ia para a raia seca, que dividia Portugal da Galiza; 1834, até - pertencia ao mosteiro de Fiães, altura em que devido à extinção das ordens religiosas, foi entregue às autoridades concelhias; 1888, 1 Janeiro - D. Albina Olímpia de Sousa e Castro, sendo então fabriqueira da capela, oferece um campo na zona da capela, para criar um terreiro frontal à mesma; 1898, 15 Fevereiro - aquando da abertura da estrada nacional de Melgaço para São Gregório, a Junta de Freguesia deliberou colocar o Cruzeiro da Orada no centro do pequeno recinto, à margem da estrada, na confluência das freguesias de Santa Maria da Porta e Santa Maria Madalena de Chaviães, porque até ali estava junto à parede de suporte do terreno da capela; destruição da galilé da capela.


Algumas caraterísticas particulares
Trata-se de uma igreja de fábrica muito cuidada e custosa em relação ao local de implantação, ainda hoje isolada, revelando assim grande devoção. A maior concentração de motivos de carácter apotropaicos gravados no portal N. revela seguir a tendência da região em temer os espíritos virem do N.. Nos cachorros observamos temas tradicionais e populares, como o nó de Salomão, suástica flamejante, roseta, etc. e outros mais modernos, como cabeças - rei coroado -, objectos e geometrizados, de escultura bastante cuidada. O portal axial, sem tímpano, e de arco quebrado, pelas bases de plinto bastante alto, reduzido tamanho dos seus capitéis de folhagem e sem volutas, pela modinatura e organização das arquivoltas e do pé-direito, bem como pelos temas, quase heráldicos, que as decoram, deve ser considerada já como protogótico, embora nele se possam ver ainda aves afrontadas, um friso enxaquetado e as malgas, típicas do portal lateral de Paderne. A decoração do tímpano do portal lateral N., com a árvore da vida, constitui uma composição escultural única em Portugal, de grande carácter simbólico.



Informações recolhidas em:
VIEIRA, José Augusto, O Minho Pittoresco, vol. 1, Lisboa, 1886; DGEMN, Boletim nº 19, Porto, 1940; MONTEIRO, Manuel, A Igreja da Senhora da Orada in Boletim da Academia Nacional de Belas Artes, vol. 8, Lisboa, 1941, pp. 22 - 28; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Primeiras impressões sobre a Arquitectura Românica Portuguesa in Revista da Faculdade de Letras, vol. 2, Porto, 1971, pp. 65 - 116; PINTOR, Pe. M. A. Bernardo, Antiguidades Melgacenses. A Capela da Orada in Voz de Melgaço, Melgaço, 15 Jan. 1975; idem, Melgaço Medieval, Braga, 1975; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Arquitectura Românica de Entre Douro e Minho (Dissertação de Doutoramento em História de Arte), vol. 2, Porto, 1978; idem, O Românico in História da Arte em Potugal, vol. 3, Lisboa, 1986; ibidem, Alto Minho, Lisboa, 1987; ALVES, Lourenço, Arquitectura Religiosa do Alto Minho, Viana de castelo, 1987; FERREIRA, João Palma, Nossa Senhora da Orada tem Elementos Orientais in A Capital, Lisboa, 2 Maio 1988; Relatório dos Trabalhos de Acompanhamento Realizados pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, ao Abrigo dos Protocolos com a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (1997 - 1999) (2001 - 2002), (Universidade do Minho), Braga, 2002; ESTEVES, Augusto César, Obras completas nas páginas do Notícias de Melgaço, vol. 1, tomo 2, Melgaço, 2003; http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3498

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