domingo, 15 de julho de 2012

O edifício da fonte principal das Termas do Peso

É um edifício particularmente feliz quanto aos aspectos estilísticos, construtivos e, não menos, relativamente aos aspectos morfológicos. Inicialmente isolado foi-lhe posteriormente anexado, a sul, o edifício da‘oficina’ de engarrafamento e armazenamento das águas. Para se estabelecer a ligação entre os dois edifícios recorreu-se à repetição, na oficina, do acesso projectado para o exterior, característico do Pavilhão da Fonte Principal. Assim, criou-se um afastamento entre os edifícios que proporcionou uma integração volumétrica mais harmoniosa. Mas, esta anexação introduziu uma alteração à, até então, simetria existente nos e entre os dois eixos ortogonais do edifício, tendo sido suprimida a escadaria sul entretanto substituída por um balcão sobre pequeno arrumo encerrado.


O Pavilhão da Fonte Principal apresenta forma quadrangular em cujos cantos arredondados se revêem os formalismos da corrente estilística da época também presente, por exemplo, no trabalho de ferro das janelas, guardas e colunas dos candeeiros.
A referida ortogonalidade da construção é assinalada pela axialidade dos acessos projectados para o exterior, presentes em todos os lados, igualmente evidente nos alçados através da elevação dos corpos das entradas, que se reconhecem como pórticos. Os alçados articulam paramentos opacos em cantaria de granito rebocada e pintada com expressivos e generosos panos envidraçados, janelões e portas, caracterizados por uma composição geométrica de elementos lineares rectos e curvilíneos em ferro e círculos coloridos translúcidos. Estes vãos envidraçados, nalguns casos protegidos por gradeamento de ferro, caracterizam fortemente o edifício, tanto pelo exterior como no interior. A composição volumétrica, melhor perceptível pelo exterior, é igualmente assinalada pela singela e rica ornamentação das superfícies opacas.
Nas entradas nascente, norte e poente (o acesso principal), amplas escadarias com patamar intermédio proporcionam a relação de cotas entre exterior e interior, consideravelmente mais baixo. O patamar da escadaria dá acesso a uma bancada desenvolvida por todo o perímetro. Esta diferença de cotas resulta numa agradável sensação de comodidade reforçada pela intensa luminosidade transversal e zenital, pela percepção cada vez mais distante do tecto e pela amplitude da construção.
No centro do edifício está a primitiva ‘Buvette’ termal, conservando a sua forma octogonal. Todavia, nas recentes obras, o repuxo foi protegido por campânula cilíndrica e a cota da ‘Buvete’ ligeiramente subida.
Todo o piso interior é revestido por mosaicos. Nas entradas, o pequeno espaço precedente às escadas (como uma espécie de tapete) é revestido por mosaicos diferentes dos restantes cujo padrão é composto por X avermelhados, formas triangulares cinza claro e fundo branco. Os mosaicos que cobrem as maiores superfícies são alternadamente pretos ou brancos.
Estando semienterrado, o edifício ficou mais exposto a eventuais inundações mas esta questão também não foi descorada na concepção arquitectónica. Assim, no interior, na cota mais baixa, uma ‘valeta’ percorre perifericamente todo o piso, contendo escoadouros nos cantos.
A iluminação natural transversal é proveniente dos grandes janelões e portas cujos círculos de cor se projectam no piso, animando-o, e a zenital é oriunda da clarabóia central. O sistema de abertura das janelas é engenhoso e, como as próprias janelas, foi desenhado cuidadosamente. Um varão de ferro vertical central, movido inferiormente por alavanca, permite abrir em simultâneo os seis painéis rotativos da janela para algumas posições conceptualmente previstas.
Além da iluminação natural, o edifício conta com dois globos pendurados sobre os tirantes da estrutura da cobertura e com doze colunas coroadas por globos, distribuídas pelos cantos e pelo início das escadas, integradas na guarda de ferro de protecção da bancada intermédia do edifício.
Localizado à cota dos tirantes horizontais da cobertura, no sentido norte/sul, atravessando o pavilhão e entrando na oficina, desenvolve-se a linha de engarrafamento cujo mecanismo compreende uma resistente calha de ferro com rolamentos onde fica suspenso uma espécie de grade/’palete’ de grande capacidade, actualmente em exposição no edifício.

Intervenções
Século XX, pela gerência das Termas
1917 (Agosto) - plano de melhoramentos, do Eng. Couto dos Santos, apresentado na Repartição de Minas, cujo projecto incluía: ampliação do Hotel da Quinta do Peso; a construção de um casino, de um ginásio e de um lago;
1929 (cerca) – acções de melhoramentos da ‘Comissão de Iniciativa’ então nomeada: remodelação da secção das senhoras no Balneário e iluminação do Peso através de seis candeeiros ‘Petromax’ de 500 velas cada um, desde 1 de Julho a 31 de Outubro;
1930 (cerca) – expropriação de terrenos vizinhos para a expansão das termas e continuação da arborização do parque;
1931– inauguração da luz eléctrica no Peso.
Século XXI, pela UNICER/VMPS – Águas e Turismo, S. A.
2002– projecto de conservação (existente no arquivo da Câmara Municipal de Melgaço).

2013 - Reabilitação e reabertura.

Informações recolhidas em:
- http://acer-pt.org/vmdacer/index.php?option=com_content&task=view&id=602&Itemid=65

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