sexta-feira, 29 de junho de 2012

Tomás das Quingostas: herói do povo ou salteador? VI

O declinio, captura e assassinato do Tomás das Quingostas em 1839

A quadrilha de Tomás Quingostas acabou por entrar numa fase de franco declínio, o cerco apertou-se cada vez mais e vários dos seus companheiros foram presos ou fuzilados por militares ávidos de vingança. Em Maio de 1837, foi detido mais um dos seus parceiros, Francisco Xavier Sisneiros, natural da cidade de Lisboa. Conhecido como o “Lisbonense”, era considerado um agente do miguelismo no Alto Minho, tendo sido detido em Riba de Mouro, concelho de Valadares. Pouco depois, António Joaquim Rodrigues, conhecido como “Lourenço Correio”, foi capturado pelas forças do Major José de Figueiredo Frazão. Na mesma altura, foi detectada a presença de Quingostas no concelho de Melgaço, acompanhado apenas por um desertor e três camponeses. As autoridades planeavam a deportação da sua família, que residia no concelho de Melgaço, como forma de o punir. Pelo menos era essa a vontade do major Frazão, que considerava serem os membros da família os responsáveis pelo aviso da presença das tropas.
No entanto, o governador civil não anuiu a tal pretensão, por considerar que extravasava as suas competências.
Apesar de a quadrilha ser, essencialmente, uma organização masculina, o certo é em algumas ocasiões foram feitas referências à presença de elementos femininos, nomeadamente às duas irmãs que o acompanhavam e a duas mulheres, designadas pelas autoridades de “amigas” de Quingostas.
A tarefa do Major Frazão estava a ser dificultada pela escassa cooperação das autoridades administrativas locais, particularmente dos regedores. Várias explicações podem ser avançadas no sentido de explicar esta atitude, nomeadamente a sua baixa instrução, o desconhecimento das suas obrigações e o receio de represálias por parte dos salteadores ou dos seus companheiros e familiares.  
O certo é que esta sua postura tinha permitido que deambulassem livremente pelas feiras e festividades, cometessem delitos à luz do dia e circulassem pelas localidades, sem que fossem importunados.
A complacência das autoridades e das populações levou à presença de forças militares, desde Fevereiro de 1837, nos concelhos de Monção, Melgaço e Valadares, instaladas em casas de particulares, cujos proprietários não só os abrigavam, mas também os sustentavam. A situação arrastou-se pelo menos até Julho do mesmo ano. Após a saída das tropas, Quingostas reapareceu em Melgaço.
Entretanto, Quingostas tinha conseguido um indulto junto das autoridades espanholas, com a condição de não sair da província de Ourense. Mas acabou por desrespeitar o compromisso assumido e entrou em Portugal, onde os seus crimes não tinham sido perdoados.
Em Agosto de 1837, ficou sob custódia, à ordem do chefe político da província de Ourense, cabendo a Portugal reclamar a sua extradição, tendo sido solicitada, para esse efeito, a intervenção do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Contudo, os ventos pareciam soprar a favor de Tomás das Quingostas. Em 14 de Julho de 1837, iniciou-se a “revolta dos Marechais”, um pronunciamento militar anti-setembrista, de inspiração cartista, encabeçada pelos duques da Terceira e da Saldanha. Esta revolta iniciou-se em Ponte da Barca, com a sublevação dos militares que estavam envolvidos na caça a Quingostas e seus companheiros, tendo terminado oficialmente em Setembro de 1837, com a vitória das forças governamentais.
Durante o período do pronunciamento militar, as atenções deixaram de estar centradas em Quingostas, e este, tirando partido da situação, conseguiu estabelecer contactos com o Visconde das Antas, que lhe atribuiu um salvo-conduto, em Dezembro do mesmo ano.
Abandonada a clandestinidade, alguns dos seus sequazes saíram da clandestinidade, regressando às respectivas aldeias sem serem incomodados. Tomás Quingostas tornou-se comandante da guarda volante do Alto Minho, tendo como missão capturar soldados desertores que fugiam para a Galiza, bem como guerrilheiros galegos, adeptos do carlismo, e evitar roubos e furtos, cooperando na manutenção da ordem e da tranquilidade no Alto Minho.  No seu novo cargo, ia cumprindo, a preceito, as funções de que estava incumbido. Porém, em Agosto de 1838, assassinou o presidente da câmara do Soajo, João Manuel Domingues, e em Novembro do mesmo ano prendeu João Pires e o padre António José Alves, com a justificação de que davam guarida a guerrilheiros espanhóis. Apesar de não se terem confirmado essas suspeitas, a detenção foi efectuada com o pretexto de terem na sua posse pólvora e sabão contrabandeados. Algumas das acções levadas pelo seu “exército”, bem como a sua ligação a guerrilhas espanholas ditaram o seu fim. Acusado de assassinato, Tomás das Quingostas foi morto em Janeiro de 1839 junto à ponte da Alote (S. Paio) pela escolta que o transportava para a prisão, que alegou tentativa de fuga. Caía assim aquele que chegou a ser apelidado de “pequeno general do Alto Minho”, que foi assassino, salteador, guerrilheiro, comandante de tropas e herói popular.
As reacções à sua morte não se fizeram esperar. Além do já referido rapto do proprietário João Bento Pereira Dantas, uma quadrilha comandada pelo “Beira-Alta”, primo de Quingostas, miguelista, guerrilheiro e salteador, invadiu, em 1839, a casa de António José Afonso da Costa, na freguesia de Merufe, concelho de Monção, arrastou-o para fora da sua habitação e assassinou-o.
Nenhum dos salteadores que sucederam a Quingostas conseguiu granjear a sua popularidade e o reconhecimento junto das populações, talvez porque se tratava de homens considerados autenticamente marginais, que recorriam à violência, ao assalto e ao furto apenas para satisfazerem os seus interesses pessoais, sem quaisquer motivações de natureza política.

Capela de Barata
Conta-se que foi o Tomás das Quingostas foi abatido junto à ponte da Alote e enterrado junto à capela de Barata - S. Paio (na imagem).


Informações extraídas de:
in "ESTEVES, Alexandra Patrícia Lopes (2010) - Entre o crime e a cadeia: violência e marginalidade no Alto Minho (1732 - 1870). Tese de Doutoramento, Universidade do Minho, Instituto de Ciências Sociais.

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